Como tem sido significativo este retorno ao ambiente da escola! Quando o ano letivo iniciou lá atrás, antes da pandemia, éramos outros. O isolamento social nos impactou fortemente, de diversas maneiras. Foi revelador perceber como o chão da escola fez falta, tanto para os adultos como para as crianças. Aquela saudade imensa dos amigos, da troca no dia a dia, das brincadeiras, da aprendizagem coletiva, de estar em um lugar de partilha, cheio de energia, vida e potência.
“Quem trabalha com educação nunca imaginou uma situação de ficar nove meses afastado do ambiente escolar e, menos ainda, que de uma semana para a outra precisaríamos adaptar o nosso currículo para um ensino emergencial remoto. Muitas coisas aconteceram nesses meses todos. Muitas angústias, muitas aprendizagens, muita pesquisa, muitos erros e acertos, mas conseguimos passar por este desafio” – diz Gabriela Fernandes, coordenadora pedagógica do Ensino Fundamental da be.Living.
Gabi conta que, agora, o tempo é de retomar a escola como o espaço físico potente que ela é, de construção de conhecimento e cultura, de vivência simbólica, de compartilhamento de experiências e emoções e, sobretudo, de acolhimento às crianças.
A Covid-19 afetou o comportamento das crianças com relação às emoções, às relações interpessoais e ao próprio aprendizado. Pesquisas realizadas em outros países apontam que muitas crianças e adolescentes retornaram à escola apresentando diminuição de vocabulário e sintomas como ansiedade e irritabilidade, além de dificuldade em focar a atenção.
Gabriela explica que o excesso de horas em frente à tela ocasiona nas crianças uma dificuldade de estabelecer concentração e que concentração é algo fundamental para os processos de aprendizagem. Ela lembra que a tela também reduz o contexto educativo, reduzindo, por consequência, a potência das atividades e de estudo. Para ela, o desafio deste retorno presencial parcial, está sendo pensar em práticas pedagógicas que sejam as mais adequadas para todas estas questões que estão sendo apresentadas.
“Estamos investindo em atividades de reforço focadas nas líng uas portuguesa e inglesa e na matemática, para que possamos avaliar como eles aprenderam nesse período de ensino à distância e, principalmente, no acolhimento e no resgate de vivências que conduzam as crianças novamente para dentro do ambiente escolar. A intenção é um currículo que traga a memória à tona, pois aprendizagem é transformar memória curta em memória longa. Quando algo tem significado, a memória fica e aquilo se transforma em aprendizado”.
Na prática, meninos e meninas do Fundamental estão retomando atividades como observação e registro, por exemplo, que ampliam a postura investigativa e que os envolvem no processo essencial da educação que é significar a aprendizagem formando memórias que permaneçam. E como a memória está diretamente relacionada com o campo das emoções, não podem ficar de fora atividades que busquem atingir o cerne da emoção das crianças.
“Brincadeiras, músicas e atividades que envolvem ritmo e corpo foram nosso foco nas duas primeiras semanas de retorno. Desenhar, imaginar, criar histórias, ler, representar o próprio corpo, vivenciar situações culturais, como o Halloween, por exemplo. Estamos buscando fazer com que as crianças voltem a vivenciar a escola como ela é: um ambiente de cultura, de convívio, de aprendizagem, de estar bem e de se sentir bem com os outros. E lembrando, sempre, que a escola é um lugar do comum, de vivenciar, na prática, a importância da coletividade, principalmente neste momento que vivemos. Aprender que a minha ação é fundamental para a manutenção do coletivo, que os protocolos de saúde precisam ser seguidos por todos para que possamos seguir juntos, que somos sujeitos de ação e da ação dos outros. Nada mais fidedigno ao que deve ser a escola”.
A coordenadora finaliza dizendo que para o segundo momento do retorno presencial parcial, a ideia é ampliar o tempo das crianças na escola, trazendo mais atividades de sondagem e de reforço, principalmente nas áreas de línguas e de matemática, para que meninos e meninas sintam-se seguros e preparados para iniciar o próximo ano.
