Acolhimento na Educação Infantil

Quando falamos do processo de acolhimento (também conhecido como adaptação), muitas vezes fazemos uma relação direta com o início do ano e com a entrada das crianças na escola. Mas além dos primeiros meses do ano, os momentos iniciais do segundo semestre também são desafiadores para as crianças – tanto as que já estavam na escola quanto as que entram agora -, para as famílias e para a escola. A retomada dos projetos de cada grupo, as reconfigurações das turmas e a volta à rotina escolar depois do mês de férias pede atenção, cuidado e sempre muita clareza nos processos de comunicação. Em entrevista para o nosso blog, a coordenadora pedagógica Camila Maia conta como a be.Living lida com esse processo:

O mês de julho é tempo de férias, um período de bastante convivência com a família. Como é essa volta para a escola, quais os principais desafios vividos pelas crianças?

O retorno pode ser exigente para todas as crianças, principalmente para as pequenas, para quem um mês é muito tempo. Nas férias elas não seguem a mesma rotina de horários para dormir ou se alimentar, às vezes viajam, passam dias fora de casa. Voltar para essa rotina mais estruturada é sempre bastante desafiador. Mesmo as crianças que já estão com a gente desde o início do ano, apropriadas do espaço, da rotina na escola, com vínculo criado com as professoras, muitas vezes choram um pouquinho na hora da despedida dos pais, ficam mais sensíveis e mais cansadas ao longo do dia.

O que você observa da relação das crianças que já estavam na escola com as novas que chegam em agosto?

A chegada de novos colegas no grupo é sempre um grande evento! Junto à curiosidade de conhecer cada novo integrante, alguns desafios também acompanham este momento. Por exemplo, essas crianças chegam ao grupo com o pai ou a mãe dentro de sala nos primeiros dias, enquanto as crianças que já estavam na escola não estão mais com esses acompanhantes. Para explicar isso, as professoras aproveitam para fortalecer cada criança, sinalizando o quanto já conhecem da escola, quantas coisas já sabem fazer por si só, quantos amigos já têm. Elas enaltecem as habilidades das crianças, convidando-as a se colocar nesse lugar mais potente, servindo muitas vezes como modelo, como referência para as crianças que estão chegando agora na escola.

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Poderia dar algum exemplo de como isso acontece?

No Yellow/Orange, por exemplo, quando as professoras falam em inglês “vamos pegar uma almofada para fazer uma roda”, a criança nova ainda não entende a língua, não está apropriada dos procedimentos, e não conhece a rotina. Então, as professoras se apoiam nas crianças antigas, que já têm uma compreensão maior da língua, e sugerem que elas façam esse convite aos colegas novos: ”Vamos mostrar para ele como é a roda, como nos sentamos e o que fazemos?”. As professoras vão validando tudo o que elas já sabem fazer, tudo o que elas já conseguem, já conhecem. “Olha que legal, como você é grande, como você consegue, como está ajudando o colega novo”. Com isso, essas interações vão fortalecendo  e unindo o grupo nesse recomeço de trabalho no retorno das férias.

Pensando nas professoras de cada grupo, para onde se volta o olhar delas nesse início de semestre?

A equipe pedagógica se prepara para acolher todas as crianças. Nesse retorno, as professoras buscam resgatar as brincadeiras que eram as preferidas do grupo, colocando materiais à disposição e pensando no que cada criança gosta de brincar, para que possam lembrar como é gostoso estar na escola, todas as coisas legais que elas podem fazer aqui. Enquanto isso, as professoras também estão planejando estratégias para retomar com as crianças aquilo que elas viveram no início do semestre. Algumas propostas são reapresentadas, os cartazes e outros registros sobre o que elas foram descobrindo no primeiro semestre são resgatados e ficam nas paredes da sala, e vídeos são utilizados para que as crianças lembrem do que elas viveram. Da mesma forma, vão sendo acrescentados desafios novos, ao passo que as professoras compreendem o ritmo do grupo e conseguem planejar os próximos passos que darão nesse período que está iniciando. Essa retomada de projetos precisa acontecer sempre, porque a entrada ou a saída mesmo que de uma única criança no grupo, já traz uma nova configuração. O movimento acaba sendo outro, as relações se reestabelecem, então é um tempo de a professora reconhecer esse grupo e de as crianças se olharem novamente.

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Para as famílias esse período também traz desafios. Como a escola as acolhe nesses primeiros momentos do semestre?

Assim como no início do ano, antes de o período letivo começar, fazemos uma reunião com todas as famílias novas que estão entrando na escola. Faço essa reunião contando sobre como nos organizamos e o que esperamos para esse momento. É um encontro em que eu escuto muito as famílias, as emoções que estão ali. Ouço pais e mães que estão se sentindo ansiosos e expressando angústias, como acharem que este começo vai ser mais difícil para eles do que para os filhos. Então, é o momento de entendermos um pouco quem é essa família que estamos recebendo, porque essa compreensão diz muito sobre o processo que a criança vai viver aqui na escola. Além disso, passadas as primeiras semanas, eu chamo as famílias para uma reunião individual, com o objetivo de conhecer mais sobre a criança, entender como aconteceu sua chegada na família desde a gestação,  o nascimento, os primeiros meses de vida, a amamentação, como as relações foram sendo estabelecidas, quem estava envolvido, como é a rotina, até a decisão de vir para a escola. Estes, entre tantos outros detalhes, podem compor o nosso olhar para ela aqui na escola.

Cada criança tem seu tempo de se sentir acolhida em um novo ambiente e em novas relações. Como vocês lidam com esses tempos que são diferentes?

As crianças viverão um momento de construção de vínculos com os adultos, entre elas, com o espaço, com a língua e com o conhecimento. É um fato que cada criança tem um tempo e vive os diferentes processos de uma forma diferente, e nós vamos lidar com isso de uma maneira muito respeitosa e carinhosa. As professoras estão bastante atentas para compreender como cada uma demonstra seus sentimentos, como se relaciona com o outro e com o ambiente, o que a interessa e como se comunica, buscando, desta forma, a melhor forma para convidá-la a vivenciar as propostas junto ao grupo.  Tem crianças que chegam na escola bastante curiosas e despojadas,vão brincar e nem olham para mãe ou o pai. Tem outras que procuram mais pelo acompanhante, não aceitam os convites das professoras e precisam de um tempo diferente para se envolver nas propostas e com o grupo. O tempo é algo muito particular, e sempre vamos respeitar essas diferenças.

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E com as famílias, como são essas diferentes reações?

Assim como cada criança, cada família vive também um processo. Algumas mães e pais se cansam de ficar aqui e me pedem: “posso ir embora pra casa? não aguento mais ficar aqui”, enquanto outros choram porque não se sentem preparados para despedir-se da criança. A minha relação é muito próxima com as famílias, especialmente nesse momento, que é quando criam um vínculo e uma relação de confiança com a escola. Nesse processo de acolhimento, minha comunicação é sempre clara e verdadeira, nunca vou dizer que a criança está bem se realmente não está. Eu procuro acolher os sentimentos que são mobilizados nos pais, entendendo e os ajudando a entender que se eles não estão bem, seguros e confiantes neste momento, certamente a criança não ficará, por mais investimento que as professoras façam. Os pais são as principais referências para as crianças, na vida e em especial na escola. É imprescindível que a criança sinta genuinamente que ela pode confiar neste espaço e nestas pessoas, e quem irá validar isso serão seus pais. Isso representa o que a gente combina com as famílias: precisamos de uma comunicação em via de mão dupla, com liberdade também para elas trazerem dúvidas e questões conforme forem aparecendo.

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