“Um pequeno jardim, uma horta, um pedaço de terra é um microcosmos de todo um mundo natural…
Ele nos ensina valores da emocionalidade com a terra: a vida, a morte, a sobrevivência,
os valores da paciência, da perseverança, da criatividade, da adaptação, da transformação, da renovação”.
“A boniteza de um sonho”, Moacir Gadotti
A conexão que o ser humano possui com a natureza é muito profunda e natural, afinal, ela é o nosso habitat, nossa grande casa. Não por acaso, muitas vezes quando tomamos sol, entramos no mar ou quando respiramos o ar fresco da mata acessamos uma sensação indescritivelmente prazerosa, um sentimento de harmonia e de pertencimento a um lugar comum que nos acolhe por completos.
Sempre foi uma preocupação da be.Living estimular o contato das crianças com a natureza, proporcionando momentos de conexão e aprendizagem através de atividades que contribuem para o desenvolvimento da percepção, da criatividade e da saúde física e cognitiva dos pequenos. Em meio à pandemia, essa preocupação se fez ainda mais presente. Mas como nutrir uma relação com a natureza quando estamos dentro de casa, em isolamento social?
Se pararmos para sentir e observar bem, a natureza está sempre presente, mesmo dentro de casa. A luz do sol que entra pela fresta da janela, o vasinho de planta que enfeita e traz energia para a sala, o luar que prepara o corpo e a alma para descansar à noite, os alimentos que comemos.
Livia Ribeiro, educadora ambiental da Reconectta e assessora da be.Living para questões relacionadas à sustentabilidade, afirma que este é um momento auspicioso para nutrirmos uma relação mais consciente com as manifestações do universo, a partir de uma nova perspectiva. “É importante lembrar que não é considerado natureza apenas plantas e animais, mas também o céu, a chuva, o vento, as estrelas, as nuvens, o sol. Estar mais tempo em casa pode ser uma oportunidade de explorar e perceber a natureza de outros ângulos, nos pequenos detalhes. Perceber aonde e em que momento do dia bate o sol na casa, as características das diferentes plantas, o som dos pássaros, o movimento da água da chuva escorrendo pelas janelas, a água que bebemos. Cultivar esta percepção dos fenômenos naturais e daquilo que a natureza nos oferece é uma forma de redescobrir o mundo que habitamos”.
Juntamente com as professoras, Livia pensou sobre propostas práticas e simples que pudessem acontecer dentro da casa de todas as crianças, buscando cultivar esta conexão. Foi quando ela enxergou no alimento uma grande oportunidade de olhar mais fundo para a natureza e propôs a atividade “Vamos germinar?”.
“Atualmente, em nossa sociedade, não sabemos da onde vem a nossa própria comida, nem como ela foi produzida. Então, pensamos em recuperar, de alguma maneira, esta autonomia que a gente tinha no passado e que a gente perdeu com o passar do tempo, de produzir o nosso próprio alimento. Além de trazer a questão da autonomia alimentar, a germinação em casa é uma experiência de encantamento com a natureza porque o processo de germinação é muito mágico, promove o olhar científico das crianças e desenvolve virtudes como o cuidado, a paciência e a responsabilidade”.
Lívia explica que a germinação é uma grande representação do início da vida, de novos ciclos, sendo um dos processos mais encantadores e belos da natureza. “Essa atividade tem como objetivo despertar nas crianças e nas famílias a beleza do nascimento de uma nova planta, assim como perceber que temos muito potencial e autonomia em nossa casa de produzir nosso próprio alimento, mesmo que seja o nosso tempero, ou pelo menos de produzir mudas que possam ser replantadas em outros locais”.
Ela lembra que a germinação traz a importante aprendizagem de que os processos da natureza não são totalmente controláveis pelo ser humano, ou seja, tudo pode acontecer nas tentativas de germinação. “Sementes podem não brotar, raízes podem apodrecer… são muitos fatores envolvidos. É um convite para uma experiência aberta, para recomeçar o processo que não saiu como planejado, para testar mudança de lugar, de espaço, de possibilidades”.
Este processo de tantos aprendizados – que vai desde pensar o que se come, de investigar o que se tem de sementes dentro de casa, de priorizar uma dieta rica em alimentos frescos, orgânicos e naturais, vem acontecendo com enfoques diferentes para cada turma.
“Neste momento tem turma estudando os bulbos, tem turma estudando fotossíntese, outra estudando o que a planta precisa para crescer. São diferentes óticas, mas todos estão vivenciando esta experiência que é incrível, não somente para as crianças, mas também para toda a família”.