Tudo tem seu tempo

A importância de um Ensino Fundamental que respeite o tempo da criança

Vivemos em uma estrutura de sociedade em que, muitas vezes, as crianças são tratadas como pequenos adultos assim que entram no Ensino Fundamental. De repente, a escola deixa de ser um espaço de experiências prazerosas e de brincadeira e, aos 6 anos de idade, crianças passam a vivenciar uma perspectiva de educação desconectada de necessidades fundamentais da infância.

O período da infância vai até os 10 ou 11 anos de idade, quando começa a fase da pré-adolescência. O Ensino Fundamental I é a etapa de aprendizagem responsável por promover na criança o desenvolvimento de todas as ferramentas que são necessárias para seu percurso de estudo: a leitura, a escrita, o raciocínio lógico matemático, o olhar para pesquisa de uma forma sistematizada, além de todo o processo de organização de tempo e espaço e de aprender a realizar um trabalho do início ao fim.

Por isso, na be.Living, olhamos com muito carinho e delicadeza para a segunda infância, buscando respeitar ao máximo o tempo de aprendizagem da criança, sem que etapas sejam puladas ou antecipadas.

Gabriela Fernandes, nossa coordenadora pedagógica, explica que o Ensino Fundamental I é um ciclo em que as crianças precisam aprender a fazer. “A partir do momento em que a criança começa a escrever ou a desenhar as primeiras letras, subentende-se, equivocadamente, que elas já estão aptas a fazer lição de casa, a fazer prova, a fazer a letra cursiva, mas, na verdade, elas não estão. Elas têm que aprender a fazer prova, aprender a participar, do mesmo jeito que aprenderam, com todo o tempo da educação infantil, a fazer um processo de pesquisa. O Ensino Fundamental 1 é um ciclo que as crianças precisam aprender a fazer. Aprender a participar de uma discussão, aprender a defender as suas ideias, aprender que existe um imenso buraco entre dar a minha opinião e refletir sobre uma questão que estudiosos estão refletindo, que dar opinião é uma coisa e dizer o que eu entendi sobre um tema é outra completamente diferente, enfim, todas essas ferramentas que na educação são chamadas de habilidades e competências”.

Ela lembra sobre a importância de oferecer para essas crianças salas menores com um número limitado de alunos de, no máximo, 25 crianças. “É muito desafiador para um professor que tem 35 alunos conseguir fazer o acompanhamento de perto de tudo isso que está, ainda, em desenvolvimento. E nesta faixa etária, a criança tem que ter alguém que a acompanhe bem de pertinho, em um ambiente menor, onde ela tenha não somente o apoio dos adultos mas onde ela tenha, também, autonomia para transitar. Este tipo de ambiente ajuda a promover a construção e a solidificação de ferramentas que se tornarão aprendizagens”.

Gabi afirma que em grupos menores, com os professores olhando de perto cada criança, tanto na língua portuguesa como na língua inglesa, com um tempo maior da criança disponível para o trabalho escolar, é possível solidificar todas as ferramentas para que a criança chegue mais preparada para o sexto ano. “No Ensino Fundamental II, muitas dessas crianças vão ter que lidar com 15 professores. E esses 15 vão trazer as atividades e lições deles e essas crianças vão ter que se organizar para entregar para a próxima aula que, talvez, seja só na próxima semana. Como é que ela pode dar conta de fazer tudo isso, se ela não viveu um processo de organização de rotina diária, de organização de semana? Saber cuidar do tempo, saber se organizar é procedimental e procedimento a gente só aprende fazendo muitas vezes na companhia de quem sabe fazer”.

Ela compara este processo de aprendizagem como aprender a escovar os dentes. “Dentro de casa, temos que falar 10 mil vezes para a criança escovar os dentes, até que uma hora ela aprende. Do mesmo jeito, na escola, temos que pedir 10 mil vezes para a criança colocar o ponto final ao término de cada frase. É assim que se cria hábito, seja hábito de escrita, hábito de leitura, hábito de estudo. Por isso, eu acredito num trabalho realizado em escolas menores pois nesses espaços, com quantidade menor de crianças, os professores conseguem fazer um acompanhamento real do todo o processo de aprendizagem pensando no que essas crianças vão precisar no futuro”.

A coordenadora diz que é importante que compreendamos a escola como um processo cíclico. “O Fundamental I é mais uma das transições dentro do processo de aprendizado, ele não é por si. O Infantil prepara as crianças para o Fundamental I, que fará um acompanhamento e uma preparação para o Fundamental II, que vai preparar para o Ensino Médio. Se a escola é este processo cíclico, como é que eu corto as experiências vividas na Educação Infantil com tanta curiosidade, afinco e prazer e transformo o Fundamental em uma escola de penitência, que é aquela escola para onde a criança não quer ir? A criança tem que querer vir para a escola, tem que querer saber, tem que ter prazer em conhecer”.

Ela afirma que o prazer pelo conhecimento é algo a ser desenvolvido também. “Eu acredito em espaços, ambientes e educadores que se voltam para isso, que estão olhando para todo o desenvolvimento desse ser humano, para sua estrutura cognitiva, junto com o desenvolvimento da estrutura psíquica, favorecendo a aprendizagem de que o conhecimento é coletivo, que a escola tem um processo comum, que nós estamos juntos e que eu sou sujeito da ação do outro e o outro é sujeito da minha ação. Isso tudo compõe um estudante autônomo e realmente ativo e transformador. Aquele que vai olhar para tudo o que a humanidade já produziu e realizar transformações com seu olhar novo.  Por isso, esse trabalho que olha com tanto cuidado e respeito para a infância é tão importante”.

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