Há um provérbio ganês que diz que “nunca é tarde para voltar e apanhar aquilo que ficou atrás”. Em outras palavras, é fazer o exercício de olhar para o passado a fim de ressignificar o presente e construir um futuro consciente. Com o objetivo de conhecer com profundidade a origem do povo brasileiro e resgatar verdadeiros tesouros, o Year 1 está, neste momento, olhando para trás, conhecendo a história, a cultura e as riquezas dos povos africanos que, juntamente com os povos indígenas e europeus, são responsáveis pela constituição identitária de cada brasileira e brasileiro.
Através deste trabalho, que chamamos de “Projeto África”, as crianças adentram o universo da cultura africana com o intuito de conhecer a cultura brasileira. São danças, ritmos, mitos e lendas, e a cosmovisão afro-brasileira que nos ensina muito sobre comunidade, matriarcalidade, coletividade e a consciência de unidade através do conceito do “ubuntu” – a ideia de que “eu sou porque nós somos”, de que não há separação.
Quem está contando as histórias sobre os africanos e ensinando as crianças do Y1 sobre a cultura afro-brasileira é Aqualtune, uma boneca negra, nascida no Maranhão, cujo nome é uma homenagem à avó de Zumbi dos Palmares, que era uma princesa africana. Aqualtune é uma boneca reconhecida como “griot” em sua comunidade. De origem francesa, o termo “griot”, na cultura africana, significa “contador ou contadora de histórias”, função designada ao ancião de uma tribo que é o portador ou portadora da sabedoria ancestral. É o que explica a professora de língua portuguesa do Year 1, Caroline Carvalho. “Aqualtune é a contadora de histórias do nosso Projeto, ela conta que nasceu no Maranhão e já viajou por todo o continente africano. De maneira lúdica, simbólica e significativa, ela está sendo a responsável por transmitir esses conhecimentos através de cartas, fotos, vivências e músicas que compartilha com as crianças do Year 1”.
Além de ampliar o imaginário lúdico das crianças e trabalhar com a figura de afeto, ter Aqualtune como protagonista deste conhecimento possibilita trabalhar com o conceito de “lugar de fala” criado pela filósofa Djamila Ribeiro, garantindo a visibilidade, o reconhecimento e a valorização da cultura do povo negro que, mais adiante, se somará à presença de protagonistas negros e negras como a nossa professora Mafuane Oliveira – que é especialista em educação étnico-racial, e as Mestras Ana Maria de Carvalho e Joana do Maracatu de Recife, entre outras.
A professora Caroline explica que o foco maior do projeto é mostrar o quanto a África habita cada um de nós, brasileiros. “O objetivo é trazer a potência destes povos e o modo como eles influenciaram a nossa cultura, através das manifestações da cultura afro-brasileira: o cacuriá, a ciranda, a capoeira, os contos, a gastronomia. Estamos trabalhando também com a leitura do “Diário de Pilar na África”, de “Menina Bonita do Laço de Fita” e com contos diversos como o nigeriano “Porque o céu é tão longe”, que fala sobre a questão do desperdício e do cuidado que devemos ter com o alimento e que apresenta a origem dos alimentos que vieram da África, e de uma culinária que influenciou a nossa. A ideia é sempre mostrar a diversidade cultural do Brasil e a influência dos povos africanos que aqui chegaram”.
No decorrer do projeto, as crianças serão convidadas a comunicar para a comunidade da be.Living, seus aprendizados sobre a cultura afro-brasileira. A professora Carol conta que essa comunicação deve acontecer no segundo semestre e poderá ser feita por meio de um livreto (físico ou virtual) com todas as dicas de manifestações culturais e das tradições que vivenciaram ou por meio de um mapa conceitual e interativo, no padlet, para que os outros possam acessar todas as informações que eles adquiriram. “Nós já estamos fazendo um mapa interativo com as crianças para que elas tenham uma noção de onde ficam esses países e onde a gente vai colocando todas informações que vamos conhecendo. A turma se situa, também, com relação às origens e às influências dos povos africanos que chagam ao Maranhão, à Bahia e em todo o nosso país, para que, futuramente, eles possam compartilhar essas informações com a comunidade da be.Living”.