Professor: uma possibilidade de renascer a cada ano

Quem não se lembra, de quando éramos crianças, do turbilhão de emoções que sentíamos ao voltar para a escola no início de cada ano? Um misto de saudade, frio na barriga, ânimo e aquela ansiedade para saber quem seria nosso professor, quem estaria em nossa turma e o tanto que poderíamos desbravar, vivenciar e aprender! De alguma forma, intuíamos que estava tudo em aberto, como uma grande oportunidade de renascer. Mas como será que é a experiência da volta às aulas para os professores? O que será que eles sentem e como se preparam para iniciar uma nova jornada, com novos desafios e novos companheiros de viagem?

Cada nova parceria que se forma entre aprendiz e educador pode ser profundamente marcante e transformadora. Nesta relação, um é território de passagem do outro, num encontro mágico de corpos e almas, que pode gerar afetos, marcas, valores e referências para toda a vida. Abrir caminhos para o outro, para que ele cresça e evolua por meio desta experiência, é a doce sina de Anne e Dedé, professoras do Ensino Fundamental. Elas compartilham aqui, conosco, como é o processo de preparar seus corpos e almas para acolher, da melhor forma possível, os diferentes corpos e almas que chegam no novo ano, com quem, juntos, construirão uma nova história.


Anne, professora do Year 1

 

Anne, quais são as angústias, motivações e alegrias que passam pelo “corpo” do professor que vai iniciar uma nova historia junto aos novos alunos?

Anne: Eu acredito que tanto o professor como as crianças iniciam o ano com um “adeus”. Precisamos elaborar a perda daqueles que fizeram parte de nossas vidas por um ano todo e nos abrirmos para novos jeitos de ver e sentir o mundo. Passo por isso de uma forma muito intensa. Acho que todos – estudantes e educadores, que sentem os vínculos, a reciprocidade e a empatia como alicerces de um bom ambiente de aprendizado, acabam vivenciando este “adeus” e  esta sensação de vulnerabilidade diante do novo. Depois, vem uma ansiedade que eu chamaria de “gostosa”: quem são essas crianças? O que elas vão trazer para o nosso grupo? E como angústia – e digo “angústia” não de uma forma pejorativa, eu trago comigo sempre a preocupação de se vou ou não ter bagagem para dar ferramentas às novas crianças para que possam lidar com as dificuldades que cada uma delas irá me trazer. A grande motivação é de não falhar com eles como ser humano, não minar o que eles têm de melhor, perceber o momento da necessidade de um abraço e de uma palavra encorajadora, ou de uma conversa séria sobre algo que precisa ser modificado. E sempre, sempre,  enaltecer suas conquistas. Tento muito me transportar para aquela Anne de cinco, seis anos de idade, e transformar ou melhorar a forma com que os adultos à minha volta trabalharam minhas alegrias, necessidades, medos, desejos e dificuldades. Acho que ser educador também é revisitar a própria infância. As crianças me tocam tanto quando eu suponho que as toco, e minha preocupação, sempre, é a qualidade do que eu vou deixar de meu nelas.

Como você se prepara para iniciar a nova jornada que inicia?

Anne: Eu me preparo para um novo ano, com novas crianças, tentando enxergá-las como elas são, sem transferir para elas expectativas baseadas em relações e trocas com turmas anteriores. Carrego, sim, comigo, tudo o que deu certo e errado, mas sempre mantendo em mente que novas relações trazem consigo novos desafios, conquistas com sabores diferentes e novas formas de enxergar  e sentir as coisas.

 


Dedé, professora do Year 1

 

E você Dedé, como enxerga o novo ano letivo na vida do professor?

Dedé: Eu vejo o início do ano como um recomeço, como uma tremenda oportunidade para olhar para o ano vivido e recalcular a rota: pensar em coisas que poderiam ser realizadas com mais qualidade, pensar em coisas que eu possa ter dado muita ênfase e não precisava tanto e, é claro, olhar para o novo grupo. Mesmo que continuemos responsáveis pelo mesmo ano, no meu caso o 1º. Ano, estou recebendo um grupo de crianças diferentes, com demandas bem diferentes do que as do ano passado. Então, os primeiros dias de contato com essas crianças são para sentir as demandas deste grupo. Neste momento, posso te dizer que já percebo as diferenças dele com relação ao grupo do ano passado e já sei as necessidades de alteração na minha relação com essas crianças. É claro que a Dedé é a mesma pessoa, mas é uma Dedé que está em constante transformação para atender as demandas destas crianças, que são diferentes, e que vêm com expectativas diferentes também.

Como o professor se prepara para essa nova jornada?

Dedé: Aqui na be.Living, temos um  processo de avaliação bem verdadeiro. Eu começo o ano conversando com a Gabi, nossa coordenadora, e ela avalia o meu trabalho em 2019 e traz as expectativas dela para o meu trabalho neste ano. Essa fala da Gabriela me ajuda a ir mudando, a pensar, a partir da fala dela, como vai ser meu trabalho e o que eu tenho que qualificar nele. Isso me fortalece. Você sabe exatamente como a escola avalia seu trabalho e o que pode ser feito para o novo caminhar. Nós fazemos, também, uma avaliação em que preenchemos um formulário, sobre o qual depois temos uma conversa olho no olho. Ela me disse que eu não coloquei nada ali muito diferente da avaliação que ela faz do meu trabalho. Isso me ajuda a perceber que não estou no caminho errado, que faço uma avaliação profissional do meu trabalho com bastante qualidade, que não estou perdida neste sentido. Isso me ajuda a continuar e seguir no meu processo ascendente na minha profissão. Eu penso que muda o ano letivo, muda a turma, mas você é uma profissional que está em constante evolução.

Para você, quais são as grandes motivações de iniciar o trabalho de um novo ano letivo?

Dedé: Para mim, a grande motivação para o professor é o grupo de crianças que ele recebe. Como eu falei, esse grupo tem uma característica bastante diferente do grupo anterior, então, faz com que eu mude os meus focos de investigação, que eu mude as pessoas com as quais eu vou procurar referências para o meu trabalho. Eu acho difícil o professor não ter no seu grupo a sua grande motivação. São as crianças que nos motivam a trabalhar, a buscar e fazer determinados estudos. O tempo todo são elas que vão me dando essas motivações para eu qualificar o meu trabalho.

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