Educação étnico-racial na primeira infância: formando cidadãos conscientes desde cedo

“Nunca é tarde para voltar e apanhar o que ficou para trás”. (Sankofa)

A consciência negra não nasce pronta. Ela deve ser cultivada com cuidado, assim como uma semente que, ao encontrar solo fértil, precisa da ação das mãos humanas, da água, do vento e do sol, para crescer e florescer. Na be.Living, esse plantio é realizado com amor e responsabilidade desde os primeiros anos de vida. Entendemos que transformar uma sociedade marcada pelo racismo estrutural requer mais do que gestos isolados. É preciso um compromisso diário com o olhar crítico e com a celebração da história e da cultura do povo negro, que tanto moldou o Brasil e o mundo por meio de sua arte, ciência e sabedoria.  

Na Educação Infantil da  be.Living, a educação étnico-racial é trabalhada de forma sensível e integrada à rotina das crianças. Todos os dias elas são convidadas a ampliar o repertório, a vivenciar e valorizar a diversidade por meio de múltiplas experiências e práticas pedagógicas.

A coordenadora pedagógica da Educação Infantil, Camila Maia, explica que o objetivo não é apenas abordar a diversidade, mas apresentá-la como parte natural do aprendizado. “Trabalhamos essa educação como um letramento, mostrando a diversidade do mundo de maneira lúdica, assim como fazemos com outros conceitos, como letras e números”.

A literatura, as músicas e as brincadeiras são algumas das principais ferramentas utilizadas para construir essas vivências. Livros como “Just Ask” , de Sonia Sotomayor, por exemplo, apresentam personagens diversos, incluindo crianças pretas, enquanto músicas e brincadeiras são ligadas a contextos culturais específicos, como as origens africanas. “Quando mostramos de onde vêm essas brincadeiras ou músicas que as crianças gostam, ampliamos o olhar delas sobre o mundo, sempre de forma natural e respeitosa”, explica Camila.  

Com o grupo do Red, com crianças de cinco anos, o trabalho avança para reflexões um pouco mais profundas. Em atividades artísticas, as crianças misturam tintas para alcançar diferentes tons de pele, o que abre espaço para diálogos sobre diversidade. “Esses momentos permitem que as crianças observem os tons de pele das pessoas ao redor e reflitam sobre as diferenças. É uma forma de olhar para a história e para a origem das famílias”, comenta.  

Já com os grupos como o Green, que reúne crianças de três anos, o foco é a ludicidade e o contato humano. Um exemplo de trabalho vivenciado por este grupo é o projeto “All About be.Living”, no qual as crianças entrevistaram membros da comunidade escolar para descobrir seus interesses, habilidades e brincadeiras preferidas . O grupo pôde conhecer mais de perto as equipes de limpeza, administrativo, direção e cozinha para investigar de que estas pessoas brincavam quando eram crianças. “Ao fazer essa pesquisa com pessoas diversas da comunidade escolar, para além de seus familiares, as crianças puderam entrar em contato com várias brincadeiras, de diferentes lugares do Brasil e do mundo. Esta é uma forma de ampliar a discussão com as crianças sobre quem são as pessoas que compõem nossa comunidade. Queremos que elas percebam que estas pessoas não são a função que ocupam, mas que são pessoas que produzem cultura e conhecimento. Além disso, esses momentos ajudam a criar conexões genuínas”, relata Camila.  

Outro ponto central na abordagem da escola é a escolha de referências que representem a diversidade. “Buscamos incluir artistas pretos em projetos de arte e destacar pessoas pretas ocupando diferentes funções na sociedade. Queremos que as crianças entendam que essas pessoas têm múltiplas habilidades e ocupam diversos espaços”, afirma a coordenadora.  

A escola também acredita que a mudança começa internamente, tanto na formação da equipe pedagógica quanto na revisão constante do currículo, para eliminar práticas e discursos racistas. Desde 2019, a be.Living promove formações regulares com especialistas, para que professoras, professores e funcionários compreendam e implementem uma educação étnico-racial de forma consistente. Esse projeto de formação tem a preocupação de promover dentro da be.Living um espaço para o diálogo, bem como proporcionar aos educadores e educadoras o encontro com profissionais que são referências contemporâneas e estão desenvolvendo pesquisas sobre a temática étnico-racial em espaços formais e não formais de educação. As formações também trazem repertório de produções literárias e acadêmicas afro-brasileira, indígena e latinoamericana. Essa construção coletiva já trouxe resultados significativos, cultivando em seus estudantes uma nova concepção de relações humanas baseada no respeito, na diversidade e na responsabilidade social.  

“Estudar sobre essa questão é urgente, para que todos tomem consciência histórica de como chegamos até aqui e da importância da educação para mudar a rota desse caminho”, reflete Camila. As professoras da Educação Infantil da be.Living participaram dessas formações, que incluíram encontros com especialistas, como o historiador e educador Rafael Domingos Oliveira, a arte-educadora e artista plástica Juliana do Santos, e Mafuane Oliveira, arte educadora, pesquisadora e contadora de histórias  .  

Para Camila, a escola desempenha um papel essencial na reconstrução de uma história mais inclusiva. “Nós, juntamente com as famílias e toda a sociedade, temos esse papel fundamental de reparar a história, apresentando às crianças uma nova perspectiva. Aqui na Educação Infantil, mostramos todos os papeis que essas pessoas ocupam, oportunizamos o contato com conhecimentos sobre a História e a realidade de países africanos, de forma contextualizada para as diferentes faixas etárias, e ampliamos a visão das crianças sobre o mundo”, conclui. Essas práticas, integradas ao dia a dia das crianças, promovem uma vivência rica e significativa, formando cidadãos conscientes e abertos para um futuro de igualdade social e racial , e de celebração à riqueza de todos os povos. 

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