Quando é a hora de tirar a fralda da criança? Como fazer? Em quanto tempo? Perguntas como essas rondam a cabeça das famílias de crianças pequenas e, muitas vezes, são acompanhadas de ansiedade, comparações e expectativas externas. Em nossa escola, entendemos que o desfralde é um processo que precisa ser vivido no tempo e no ritmo de cada criança, com sensibilidade, acolhimento e parceria entre escola e família.
A coordenadora pedagógica da Educação Infantil da be.Living, Camila Maia, explica que o desfralde não acontece de um dia para o outro. “Desfraldar não é virar uma chavinha. É um processo de maturação física, neurológica, emocional e cognitiva. Cada criança vai dando sinais próprios de que está pronta para viver essa transição. Assim, não existe uma regra única que determine o momento certo para isso”.
Para Camila, é fundamental que as famílias não se deixem levar por pressões externas ou pela comparação com o processo vivido por outras crianças. “É importante que tenhamos sempre em mente que não é porque uma criança desfraldou com dois anos que a outra também tem que desfraldar com essa mesma idade. Precisamos ouvir a criança e observar o momento dela, pois, de fato, não é eficiente seguir fórmulas prontas que vêm de fora.”
Esse processo de amadurecimento pode ser percebido em pequenos gestos do dia a dia. A criança começa a demonstrar incômodo com a fralda cheia, passa a avisar que já fez xixi ou cocô e, num momento seguinte, começa a sinalizar que quer fazer. Além disso, há sinais motores que indicam que o corpo da criança está mais organizado, como conseguir subir escadas intercalando as pernas ou pular com os dois pés juntos. Tudo isso costuma acontecer entre os dois anos e meio e três anos, embora não exista um prazo definido. A especialista em psicomotricidade da escola, Ilci Miranda Aulicino, reforça constantemente que o corpo da criança precisa estar preparado para essa transição, e que antecipar esse momento pode trazer mais frustração do que conquistas.
Na escola, o ambiente coletivo tem um papel essencial neste processo. As crianças se inspiram umas nas outras e encontram no grupo um espaço de aprendizagem conjunta. “Quando elas veem algum de seus pares usando o vaso ou comemorando que não usa mais fralda, isso desperta interesse e curiosidade nelas”, conta Camila. Esse movimento ganha ainda mais força com o ritual especial que a escola realiza para celebrar esse momento do desfralde: o “Bye Bye Diapers”. Trata-se de um rito de passagem preparado com carinho e atenção, sempre em diálogo com a família, que começa com uma combinação entre escola, família e criança sobre o dia em que ela irá dizer adeus às fraldas.

A partir desta escolha, a criança participa de uma contagem regressiva e, no dia marcado, ela vai para a escola de fralda, trazendo na mochila calcinhas ou cuecas escolhidas por ela junto à família. Nesse dia, acontece uma roda especial, aonde a criança apresenta suas roupas íntimas preferidas. Em seguida, vai com as educadoras até o banheiro, tira a fralda, joga no lixo e veste a cueca ou a calcinha que escolheu, sob aplausos e celebração de todos.
“É um grande evento. O rito é uma forma da criança concretizar essa conquista, de entender que cresceu. É um dos grandes marcos nesse processo de tomada de consciência sobre seu próprio crescimento”, destaca Camila.
A partir do “Bye Bye Diapers”, a fralda deixa de fazer parte da rotina diurna da criança, inclusive em momentos como passeios de carro, idas à casa dos avós ou restaurantes. “O ideal é que não haja idas e vindas entre fralda e calcinha ou cueca. Quando há essa alternância, a criança se confunde e não consegue avaliar se pode ou não fazer xixi ali, no meio da brincadeira”. Camila explica que o uso da fralda pode permanecer durante a noite por um tempo, até que a criança também amadureça para o desfralde noturno.



É natural que, mesmo após o ritual, ocorram alguns escapes — e a educadora orienta que esses episódios sejam encarados com tranquilidade. “O escape não é sinal de fracasso. Ele faz parte do processo. O mais importante é que a criança não se sinta frustrada, não se sinta errada. Nosso papel é acolher, apoiar e seguir caminhando junto com ela”, reforça Camila.
É muito importante que a família esteja atenta aos sinais citados para decidir fazer o desfralde. “Às vezes, a criança aceita fazer xixi no vaso, mas pede para colocar a fralda na hora do cocô. Isso mostra que ela ainda não está pronta. Não existe desfralde parcial. É preciso que a criança faça cocô e xixi no vaso para que possamos dizer que ela desfraldou”, alerta a coordenadora.
Camila ressalta que, mais do que qualquer técnica ou fórmula disponível nas redes sociais, o mais importante é que as famílias olhem para suas próprias crianças, com respeito e atenção aos sinais que elas dão. “Não existe regra. Existe o tempo de cada criança. Por isso, é essencial que as famílias não se deixem levar por expectativas externas, comparações com irmãos, amigas ou parentes, mas que possam observar seus filhos e filhas com sensibilidade, sempre em diálogo com a escola”.
Algumas práticas simples podem ajudar a tornar esse processo mais leve. Oferecer livros infantis que falem sobre xixi e cocô, convidar a criança para conhecer o vaso sanitário, oferecer um redutor de assento e um apoio para os pés que garantem mais segurança, sinalizar de forma natural quando a fralda está cheia ou perguntar se ela gostaria de experimentar o vaso sanitário são maneiras de incluir o tema na rotina de forma respeitosa, sem pressionar a criança. “Tudo isso deve ser feito de forma leve, sem massacrar, sem transformar em cobrança”, reforça a coordenadora.
Além de ser um marco de desenvolvimento, o desfralde é uma oportunidade para fortalecer vínculos, construir autonomia e ensinar à criança que ela é capaz de grandes conquistas — no tempo dela, com apoio e amor. “Quando a escola e a família caminham juntas para este mesmo sentido, o processo acontece de forma muito mais respeitosa, tranquila e positiva para todas e todos.”
