Aprender a se vestir sozinha, calçar e tirar os próprios sapatos, se servir na hora do snack e até ajudar um amigo ou amiga em determinada situação em que esta ajuda seja possível. Quando falamos de autonomia na primeira infância, estamos falando, principalmente, sobre a criança conquistar independência com relação às ações do cotidiano dela.
É importante ressaltar que o conceito de autonomia é mais amplo, pois além desta conquista de realizar ações do dia a dia sem necessariamente precisar do apoio de uma pessoa adulta, a autonomia é, também, a construção de uma moralidade. É ter a percepção do que é certo e do que é errado, do que é bom e do que é mau, daquilo que é ou não esperado dela em diversas situações sociais e em contextos coletivos. É, a partir dessa percepção, ter a oportunidade de fazer escolhas conscientes. Porém, esse aspecto moral da autonomia se dá, concretamente, na vida da criança quando ela está com cerca de 10 anos, ao fim do Ensino Fundamental I.
Apesar disso, no caso das crianças pequenas, os valores estão em processo de construção, tanto no cenário familiar como na escola, que é o espaço social da criança. “Quando a gente fala de crianças pequenas, estamos falando muito mais sobre a autonomia dessas ações da rotina. Num primeiro momento, as professoras vão convidando as crianças a terem uma independência maior no momento de cuidado com materiais pessoais, de guardar os pertences na mochila, de colocar e tirar os sapatos, ou até, numa crescente, de cuidar da organização e da limpeza dos espaços coletivos, para que elas entendam que quando chegam no espaço, ele está limpo e organizado e é importante que elas limpem e organizem este mesmo espaço para as próximas crianças que ali chegarão. Cada conquista de autonomia com relação a essas ações, sinaliza, também, que a criança está desenvolvendo essa percepção do que é esperado dela em diferentes momentos” – explica Camila Maia, coordenadora da Educação Infantil da be.Living.
Camila exemplifica como se dá esse processo diário e natural de desenvolvimento da autonomia dos pequenos na escola. “As professoras apresentam para as crianças o que é certo e o que é errado, convidando-as para refletir, por exemplo, em uma situação em que uma criança bate na outra. A educadora vai mediar sinalizando – não apelando para o emocional da criança, mas mostrando que aquela é uma atitude errada, que as pessoas não devem se bater nas relações. É uma forma de construir um valor, de apresentar a construção de autonomia nesse aspecto moral, mas, ainda sem expectativa de que a criança vai agir por si só nesse momento da vida dela, pois ela ainda está em fase de desenvolvimento desse aspecto”.
A coordenadora afirma que esse trabalho se dá, essencialmente, no âmbito da coletividade, por isso o espaço da escola se faz muito importante para o desenvolvimento de uma criança autônoma. “A conquista da autonomia é um processo individual, pois cada criança possui tempos e percepções individuais. Mas é a inserção no coletivo que dará à criança essa percepção. Os outros – sejam eles crianças ou adultos, são reguladores e espelhos que sinalizam para a criança se ela está ou não se apropriando daquilo que é esperado socialmente dela, e se ela precisa ou não de ajuda, em qual cenário e contexto, e de que forma ela precisa ser ajudada. Isso tudo se dá num cenário coletivo e, ao mesmo tempo, respeitando o tempo e a maneira de ser de cada criança”.
Todos os dias, na escola, as professoras da Educação Infantil convidam as crianças para dar passos em direção à própria autonomia, de acordo com o que elas percebem que as crianças já têm competência para fazer. Lembrando, sempre, que dentro de um mesmo grupo, é natural que haja crianças com competências diferentes. “Tudo isso é considerado e olhado com carinho e cuidado para que cada uma delas, em seu tempo, consiga estar dentro de um espaço social de convívio coletivo, conquistando sua independência nas ações do cotidiano, entendendo as regras e combinados, conseguindo respeitar a maioria deles, ou questionando essas regras e combinados para se apropriar disso de uma forma que faça sentido para ela dentro de um repertório que ela já compreende como certo e errado”.