Balé: movimento, expressão e poesia na infância

Na sala de balé, as crianças se movem com concentração e alegria, imitando animais, girando como flores ao vento, saltando como se tentassem alcançar as nuvens…. Quem orienta os movimentos é a professora Mima de Freitas, conduzindo com muita delicadeza a expressão de cada criança. O lúdico permeia orientações e palavras de incentivo: “Isso! Levante a cabeça. Você é um girassol buscando a luz do sol!”. Nesse espaço, a técnica divide o palco com a poesia e a brincadeira, e o balé se transforma em jogos e histórias que se constróem passo a passo.  

As aulas – oferecidas duas vezes na semana para crianças da Educação Infantil como atividade extracurricular – vão muito além de um momento de treinamento de habilidades. Elas se tornam uma experiência repleta de descobertas, de criatividade e de expressão não verbal. A professora, que possui vasta experiência em dança, entende que ensinar balé para crianças pequenas exige uma abordagem diferenciada, que respeite o tempo e o universo de cada uma delas. “Aqui, nós não estamos formando bailarinas e bailarinos profissionais, mas seres humanos que aprendem a ouvir o próprio corpo, a se expressar com confiança e a trabalhar em equipe”, ela explica. 

Tudo começa de forma lúdica. Para as crianças pequenas, o balé é introduzido por meio de brincadeiras que estimulam, entre outras coisas, a consciência corporal e a coordenação motora. O alongamento, essencial para a flexibilidade, vira um momento de diversão. “Costumo dizer que estamos fazendo pizzas com as pernas ou ajudando uma borboleta a lavar os pés, porque isso faz com que elas se envolvam no exercício sem perceberem que estão desenvolvendo habilidades importantes”, conta a professora. Cada movimento simples – seja um plié, um relevé ou um pequeno salto, é apresentado como parte de uma história. Elas se tornam princesas ou príncipes de um castelo, animais que correm por florestas imaginárias ou até astronautas dançantes explorando o espaço. 

Além de estimular o imaginário, as aulas têm objetivos pedagógicos claros. Durante os encontros, as crianças aprendem a reconhecer e usar o próprio corpo, a trabalhar a postura e o equilíbrio, e a desenvolver habilidades motoras finas e grossas. “Mas o mais bonito é ver como elas ganham autoconfiança. A dança tem esse poder de mostrar a elas que são capazes, que têm um corpo forte e cheio de possibilidades”, reflete a professora. As aulas também favorecem o desenvolvimento da musicalidade e da noção de ritmo, essenciais não só para a dança, mas para várias áreas da vida. 

No espaço onde as aulas acontecem, a música é mais do que um acompanhamento. Ela é a alma que inspira e guia os movimentos. As crianças aprendem a ouvir e sentir o ritmo, a perceber as nuances de uma melodia e a responder a ela com o corpo. “A música é como uma conversa, e o nosso corpo responde a ela com gestos, saltos e giros. Isso ensina as crianças a estarem presentes, a se conectarem com o momento”, explica a professora. Por meio dessa interação, desenvolvem a capacidade de escuta ativa e a sensibilidade para reconhecer diferentes emoções e climas transmitidos pela música. Além disso, canções conhecidas e composições clássicas criam um ambiente seguro e encantador, no qual elas podem experimentar e se expressar livremente.  

Esse processo, embora pareça mágico, é construído com paciência, atenção e um olhar cuidadoso da professora Mima. Ao longo do ano, ela observa cada menina e menino individualmente, reconhecendo suas singularidades e respeitando seus tempos de aprendizagem. “Eu gosto de dizer que cada movimento que elas fazem é único, porque reflete quem elas são. Não existe certo ou errado, existe o que é verdadeiro para cada pessoa”, comenta. E, nesse respeito às particularidades, as aulas de balé se tornam um espaço de acolhimento, onde cada criança se sente valorizada por sua essência. Essa abordagem cuidadosa cria uma base sólida para o desenvolvimento da autoestima, mostrando que a dança é mais sobre a experiência do que sobre a perfeição.  

Mima conta que um ponto fundamental deste trabalho é a socialização. O balé, embora seja uma expressão individual, também ensina sobre coletividade. Nas aulas, as crianças aprendem a respeitar o espaço umas das outras, a esperar sua vez e a trabalhar em grupo para criar algo maior. “O balé é uma metáfora para a vida em sociedade. Quando ensaiamos juntas, estamos mostrando a elas que, para algo funcionar bem, precisamos de paciência, respeito e colaboração”, explica a professora.  

O trabalho desenvolvido ao longo do ano culmina em um momento muito especial: a grande apresentação. Este espetáculo, aguardado por crianças e famílias, não é apenas um show de dança, mas uma celebração do processo de aprendizado, das conquistas individuais e coletivas e do encantamento que a arte proporciona. O tema escolhido para este ano, “A fruta Amarela” – inspirado no conto de Ricardo Azevedo, apresenta uma história repleta de aventura e imaginação, envolvendo um conflito entre animais e uma bruxa atrapalhada. “O tema central da história envolve a importância da empatia e do compartilhamento. De dança em dança, o enredo vai se desenvolvendo de maneira encantadora até que o desfecho traz o diálogo e a compaixão como soluções para uma convivência harmoniosa” – explica a professora. 

A preparação para o espetáculo envolve muito mais do que ensaios coreográficos. É um momento em que as crianças vivenciam a disciplina e comprometimento necessários para estar em cena, mas sempre de maneira leve e divertida. “Eu digo a elas que o palco é um lugar mágico, onde tudo o que fazemos com amor brilha ainda mais. Não importa se o passo não sai perfeito, o que importa é a alegria que elas transmitem enquanto dançam”, ressalta Mima.  

Nas noites de espetáculo, o teatro sempre se enche de risos, aplausos e olhares atentos. Para as crianças, é uma oportunidade de mostrar ao mundo aquilo que construíram juntas, de sentir o poder transformador da dança e de experimentar a emoção de estar sob os holofotes. Para as famílias, é um momento de admiração e encantamento, uma janela aberta para o universo colorido e criativo das crianças. “O espetáculo é uma síntese do ano inteiro. Não apenas dos movimentos que aprendemos, mas das histórias que contamos, das amizades que construímos e das cores que descobrimos juntos e juntas”, conclui a professora. E assim, o balé se torna mais do que uma atividade. Ele vira uma memória inesquecível, cheia de significado, daquelas que permanecem vivas para sempre na vida de uma pessoa

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