Trabalhando a escrita com crianças que ainda não escrevem

Letras, palavras e textos por todas as partes… O universo em que as nossas crianças estão inseridas é letrado. Palavras estão presentes o tempo todo em nossa sociedade, comunicando algo. Assim, aprender a ler essas palavras é, também, aprender a ler o mundo. E aprender a escrevê-las é, também, aprender a comunicar.

No momento em que as crianças são pequenininhas e ainda não sabem ler e escrever, os adultos assumem o papel de dar sentido a estes símbolos que estão no mundo. Esta aprendizagem acontece desde que a criança nasce e sua mãe ou pai fazem a primeira leitura de um livro para ela. Nesta fase da vida da criança, a grande aprendizagem com relação à escrita é compreender a função social que ela ocupa.

“Por que nós escrevemos? Como nós escrevemos? Para quem escrevemos?  Estas questões permeiam um trabalho muito importante que realizamos na Educação Infantil: o trabalho de escrita com crianças que não escrevem” – conta Camila Maia, coordenadora pedagógica da be.Living.

Camila explica que desde que entram na escola, bem pequenininhas, no Yellow Orange, as crianças começam a ter a referência das professoras escrevendo: seja marcando um evento no calendário da turma, registrando em cartolinas o conhecimento construído pelo grupo a partir de uma pesquisa, ou usando este registro escrito para comunicar o que elas aprenderam para pessoas que não viveram o processo, como, por exemplo, quando as famílias são convidadas para participar de uma roda e as professoras usam estes materiais para compartilhar os percursos de aprendizagens das crianças.

“No dia a dia escolar, as crianças vão entendendo que estas palavras comunicam e que a escrita é um lugar de referência quando as pessoas querem saber de algo. Então, o trabalho de escrita com as crianças que não escrevem está muito relacionado à essa compreensão da função social que a escrita ocupa. Quando nós trabalhamos os diferentes gêneros textuais, ou seja, uma carta, uma lista, uma legenda de foto ou um texto de memória, cada um desses gêneros tem uma função e traz para as crianças esta aprendizagem. Isso tudo já é um processo de alfabetização” – afirma a coordenadora.

Ela diz que na Educação Infantil, as professoras são como escribas e que as crianças estão aprendendo o tempo todo pelo exemplo delas. “Quando escrevem, as educadoras estão segurando corretamente a caneta, mostrando que para escrever tem um jeito certo que vai da esquerda para a direita, que vem uma linha depois a outra, que cada palavra é um agrupamento de letras, que cada letra tem um som, que as palavras também tem um som e representam algo que estamos falando”.

Através de diversas situações, os educadores vão fazendo a ponte para esta aprendizagem da escrita acontecer. “Quando realizamos uma leitura aqui na escola, os professores vão acompanhando a leitura da história, sinalizando com o dedo as palavras que estão sendo lidas. No Red, quando as professoras trabalham com as nursery rhymes, elas escrevem as rimas num cartaz, palavra por palavra, e para algumas palavras, elas fazem um desenho correspondente. A criança vai até o cartaz e, com o dedinho dela, ela “lê” a rima que está escrita ali porque ela memoriza a forma com que este texto foi colocado para ela. Ao repetir a rima, ela aprende a recitar e entende que a organização daquelas palavras significa a ordem desta fala que ela está recitando”.

Camila explica que dois pilares fundamentais para desenvolver este trabalho de escrita com crianças que não escrevem são a consciência fonológica e o repertório estável. “Na medida em que as crianças passam a entender os sons de algumas letras, elas já começam a reconhecê-las e nomeá-las, entendendo que cada letra tem um som e que esse som compõe uma palavra. A partir do momento em que elas têm esta audição treinada, elas começam a se arriscar nas hipóteses de escrita. Darei um exemplo da turma do Blue. Todos os dias, os professores do Blue escrevem na lousa a rotina da turma. Ali está o repertório estável, ou seja, aquelas mesmas palavras são vistas pelas crianças todos os dias. Isso permite que as crianças memorizem a escrita dessas palavras. Elas entendem que a palavra circle começa com C, e que depois vem o I, o R, ouro C, o L e o E. Eles não sabem ler, não sabem escrever, mas eles entendem que aquela representação gráfica simboliza uma palavra que eles já conhecem. O repertório estável é um trabalho muito importante para este início de alfabetização. Depois que elas memorizam como escreve a palavra, as professoras começam a tirar a primeira letra da palavra. E é aí, com trabalho da consciência fonológica, que as crianças entendem que circle é representado por esse som da letra C. E elas começam a levantar hipóteses de que está faltando o C naquela palavra, pois elas já conhecem como escreve e reconhecem também o som da letra C”.

Camila explica que este processo de ensino-aprendizagem faz com que a criança pense sobre a leitura e a escrita, ao invés de apenas decorar. “As crianças não decoram, elas vão entendendo como essas palavras se compõem a partir dos sons, da memorização dos repertórios estáveis e da problematização que as professoras vão colocando ao longo de todo este percurso que começa lá nos anos iniciais e que vai se concretizando ainda mais nos anos finais da Educação Infantil. Quando chegam no Blue, as crianças começam a se arriscar na representação gráfica daquilo que elas falam. Elas começam a entender que para tudo aquilo que a gente fala tem um jeito de escrever. É um processo de alfabetização que já está em curso e que deverá ser concluído nos dois primeiros anos do Ensino Fundamental”.

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