De repente, uma nova realidade chegou com tudo e pegou todos os professores de surpresa. Do dia para a noite, a pandemia e a necessidade do isolamento social exigiram total reinvenção na forma de trabalhar. No caso específico daqueles que lidam com os menores, o desafio parecia ainda maior. Como construir um novo modelo de educação que assegurasse uma aprendizagem significativa e encantadora, fundamentada no afeto, na brincadeira e na troca, quando não há mais espaços abertos para explorar, nem contato com a natureza, nem abraços e carinhos, nem as rodas de brincadeira e de conversa e nem a presença constante dos pares?
Desde que começou o ensino não presencial, a equipe pedagógica da Educação Infantil da be.Living começou a se desafiar com perguntas que pudessem apontar para a luz: “Como vamos intervir? Como vamos garantir avanços, mediar conhecimentos, instigar, provocar investigações e boas reflexões dentro deste novo cenário?” – nos conta a coordenadora dos pequenos, Joara Imparato. Ela diz que, mais do que nunca, foi necessário construir novas estratégias de ensino, de interações e de intervenções do professor. “Se antes já havia uma grande preocupação com todas as variáveis que podem interferir no trabalho pedagógico, nesses últimos meses de ensino não presencial foi preciso redobrar a atenção. Nosso percurso foi repleto de trocas, aprendizagens, avaliações e, é claro, de ajustes”.
Joara explica que este novo formato de ensino pressupõe cuidar de muitas questões, que vão desde o planejamento dos grupos para que os encontros virtuais sejam ricos nas trocas e aprendizagens, até a reorganização do currículo e de novas práticas pedagógicas. “Foi preciso pensar sobre a duração de um encontro virtual, sobre o uso de materiais acessíveis às crianças, orientá-las com relação à utilização de câmeras e microfones, sinalizar às famílias sobre a importância do espaço e do mobiliário usados pelas crianças, manter as crianças atentas mesmo diante de tantas interferências e estímulos ao redor, e considerar que os processos são individuais. Mas, acima de tudo, para conquistarmos avanços nesta trajetória foi preciso ter professores engajados, disponíveis, preparados e com conhecimento das fases do desenvolvimento infantil e de suas necessidades, além de força de vontade para lidar com diferentes recursos tecnológicos”.
A professora Lívia Novaes, do Blue 1, disse que este foi o maior desafio que já teve em sua vida profissional. “Acho que todos os professores sentiram o impacto do ensino não presencial porque a Educação Infantil é uma educação fortemente pautada pela interação, pelas experiências, pelo contato, pelo olhar, pelos gestos. A mudança remota foi bem exigente, foi preciso se reinventar mesmo para conseguir dar conta daquilo que nós acreditamos que é primordial na Educação Infantil: manter o contato com as crianças, a memória do grupo e as interações, ainda que de forma remota. Então, veio um grande e novo conhecimento sobre plataformas online e ferramentas que não conhecíamos ou que conhecíamos, mas nunca havíamos usado. Tudo para viabilizarmos ideias e nos aproximarmos das crianças. As ferramentas online se revelaram muito potentes e a partir do momento que a gente se apropriou delas, a gente conseguiu trazer para eles com muito mais proximidade aquilo que a gente queria que eles compreendessem”.
Caroline Carvalho, professora do Green e do Blue, concorda que o processo de desconstrução pelo qual tiveram de passar foi muito impactante e significativo. “No começo, foi como se estivéssemos desconstruindo tudo aquilo que acreditávamos que era uma educação ativa, que só poderia ser efetiva no ambiente escolar. Tivemos que nos adaptar ao novo formato. Era necessário criar vínculos, por meio de afeto, entre crianças que ainda estavam se conhecendo e se percebendo como um novo grupo. Apesar dos desafios, os grupos foram se fortalecendo por meio dos nossos encontros remotos. As lives deram possibilidades de construirmos com as crianças novos procedimentos e maneiras de aprendizagem, trazendo-as para o mais perto possível. As crianças tiveram a oportunidade de brincar, trocar ideias e aprender novas possibilidades neste novo contexto”.
A professora Rosana Vieira, do Blue 1, disse que, inicialmente, temia que não fosse possível realizar um trabalho de longe com os pequeninos, principalmente numa turma em que as crianças estão em processo de alfabetização. “Aos poucos, fui percebendo possibilidades e ampliando meu jeito de ver o ensino e a aprendizagem. Tive que pensar em novas maneiras de fazer o que fazia antes como, por exemplo, o trabalho de reflexão sobre a escrita das palavras. Na sala de aula fazemos isso o tempo todo e com significado para as crianças. No ensino não presencial, temos apenas os momentos das lives. Então tivemos que ter uma observação anda mais atenta para entender os novos interesses das crianças, pensar em divisão dos grupos para melhor atender as necessidades individuais e, mais do que nunca, contar com o apoio das famílias”.
Para ela, os maiores desafios foram manter a atenção de meninos e meninas tão pequenos e o fato de não poder estar perto das crianças, olhando nos olhos delas para entender o que estavam sentindo e pensando a cada momento. “Compreender a dinâmica de cada criança nesse novo formato de aprendizagem foi fundamental para envolvê-los nas propostas. Os grupos e duplas, pensados para que pudéssemos atendê-los mais de “perto”, fizeram toda a diferença para que as crianças pudessem avançar no aprendizado”.
Renata Ottoniel, professora do Blue 2, lembra que os fios condutores da aprendizagem e do desenvolvimento nesta fase da vida são a interação e o brincar, o que envolve presença e afeto. Para garantir estes direitos de aprendizagem, foi preciso usar a criatividade, readaptando práticas e propondo situações significativas, pautadas pelo olhar para a construção no coletivo, de forma lúdica e à distância. “Entender e conversar sobre os efeitos do isolamento das crianças foi um trabalho de acolhimento e empatia que nos auxiliou na construção de um planejamento que proporciona diversão e afeto mesmo que longe”.
Apesar do pouco tempo de situações presenciais na escola, Renata afirma que pôde conhecer bem os grupos dela e que este olhar foi fundamental para que as intervenções e ajustes acontecessem de forma efetiva. “Em trabalhos com foco no raciocínio lógico-matemático, desenvolvimento de consciência fonológica, interpretação de textos e discussões mais profundas, preferimos as interações em grupos menores. Desta forma foi possível mapear o desenvolvimento de cada grupo e organizar parcerias produtivas para o que almejamos para cada criança”.
Ela diz que foi positivamente surpreendida pela capacidade de resiliência e absorção dos combinados on-line que foram feitos com a turma, o que possibilitou que a comunicação nas chamadas ao vivo acontecesse de forma rica, significativa e autônoma para as crianças. “Nas lives, cada janela representa uma pessoa. Mas optamos por compartilhar a tela com figuras, imagens e livros com o intuito de trazer a atenção para uma só coisa de cada vez. Foi importante esse cuidado pois conseguimos trazer o grupo todo na direção desejada, como acontecia diariamente nas aulas presenciais”.
Com tantas novidades e desafios, a equipe da be.Living reconhece, com alegria, que conquistas foram feitas durante estes meses de ensino não presencial na Educação Infantil. “Considerando todas essas variáveis que mencionamos, nós nos questionávamos se haveria avanços, se seria possível, de fato, fazer boas intervenções. Com o desenvolvimento desse novo formato de trabalho, fomos percebendo que sim, as crianças estavam avançando”, afirma Joara.