Ruptura social, ausência de rotina, distância da natureza, exposição excessiva às telas e um turbilhão de emoções e sentimentos diante de um cenário de incertezas… De que forma o que estamos vivendo impacta a vida de uma criança? Como estará seu corpo e sua alma? E como nós, adultos, podemos lidar com as crianças nesse momento de transformação?
A equipe pedagógica da be.Living está se debruçando com empenho sobre essas importantes questões para realizar um trabalho significativo e assertivo com nossas crianças, buscando compreendê-las e atender as necessidades que elas estão apresentando nesse momento tão delicado.
Com a proposta do ensino híbrido, estamos devolvendo para as crianças o lugar social da escola, esse espaço comum onde se fica junto, se faz amigos, onde a criança brinca e lida com conflitos, coloca seu corpo em movimento e aprende com educadores e com os seus iguais. Um local onde o conhecimento permeia todas as ações e relações.
Nossa coordenadora de Educação Infantil, Camila Maia, afirma que depois de um ano tão diferente fora do espaço da escola, sendo privados de coisas tão importantes como interação, brincadeira, ar livre e todos os desafios que as interações promovem – como criar estratégia para lidar com conflitos, solucionar problemas e conquistar maior autonomia, é tempo de observar o comportamento dos pequeninos que estão chegando para a escola.
“Eles foram privados de experiências essenciais numa fase muito importante do desenvolvimento deles. Estamos observando dois tipos de ‘corpos’ que estão retornando à escola depois de tanto tempo ausente. Por um lado, as professoras vêm sinalizando um corpo mais agitado, que precisa extravasar energia, que não tem um limite externo, sem procedimentos para brincadeiras e questões do cotidiano. E por outro lado, crianças que apresentaram um corpo sem ação e sem energia, desabituados à possibilidade do brincar livre, do correr, do contato com outras crianças, do estar no espaço da natureza”.
Camila explica que diante disso, a primeira coisa que nós, adultos, podemos oferecer para as crianças é o acolhimento, buscando compreender esses sentimentos de insegurança e ansiedade que se manifestaram por conta de todas essas privações e mudanças na vida. “Uma série de sentimentos vão aparecendo no corpo das crianças quando elas não sabem ainda nem nomeá-los, quanto menos, lidar com eles. Por isso, nesse momento, as professoras estão acolhendo as crianças e acolhendo as famílias. Tem sido um movimento muito diferente de começo de ano, com muitos medos e dúvidas permeando as relações. Então, nesse sentido, o acolhimento é o que vai fortalecendo tanto a relação das professoras com as crianças, como da escola com as famílias e das famílias com as crianças”.
Ela conta que, diante dessas primeiras observações, está sendo traçado um diagnóstico para entender como será o trabalho com relação ao currículo escolar. “Todo o conhecimento que vai ser apresentado para as crianças precisa ter um ponto de partida e é isso que as professoras estão entendendo agora. Estamos promovendo situações desafiadoras, especialmente no aspecto das interações sociais, fazendo essa avaliação e sondagem para compreender como as crianças estão com relação às competências e habilidades e para que elas se mobilizem e comecem a sair de um lugar que ficaram mais cristalizadas no ano passado”.
A coordenadora Gabriela Fernandes, do Ensino Fundamental, lembra que em 2020 vivemos um processo onde ficou evidente a importância da escola para a saúde mental e emocional das crianças. Além do momento histórico – permeado por medo e incertezas, o isolamento social as atingiu fortemente. “Ansiedade, estresse e medo são sensações e sentimentos que nos impedem de planejar, por exemplo. O aumento do tempo expostas aos diferentes tipos de telas prejudicam diretamente a concentração. Vale salientar que rotina, horários e procedimentos também são responsáveis pela saúde mental das crianças pois desenvolvem o sentimento de segurança, mesmo em um contexto incerto como o que estamos vivendo. A ideia principal neste momento é fazer com que as crianças voltem a encontrar na escola esse espaço de segurança e bem estar, no qual especialistas em educação estão prontos para dar o suporte que elas precisam para ajudá-las a reorganizar seus corpos para os momentos de aprendizagem e para seu processo de desenvolvimento social e cognitivo, tanto nos momentos remotos como nos presenciais”.
Nossa consultora para assuntos relacionados à sustentabilidade, Livia Ribeiro, da Reconectta, acrescenta que as crianças estão vivenciando um sentimento que vem sendo chamado por especialistas de “ecoansiedade”. “Mesmo antes da pandemia, estudiosos identificaram nos pequenos um sentimento comum de angústia, responsabilidade e impotência com relação à vida no planeta e ao meio ambiente. Isso impacta muito a vida das crianças. Nós, adultos, devemos enxergar isso com profundo respeito, acolher essas angústias que são tão genuínas e pensar em como trazer para elas uma perspectiva de futuro possível, do que pode ser realizado a partir de um olhar mais localizado e do que está ao nosso alcance. É importante acolher esses sentimentos e sermos inspiração para as crianças, tornando-nos parceiros nesse desafio e não só depositando todas as expectativas de salvar o mundo nas costas delas. A inspiração que elas terão virá das nossas mudanças de atitudes com relação à natureza, à forma como nos organizamos enquanto sociedade e, principalmente, com relação ao consumo, pois o consumo inconsciente é algo que causa muito impacto na vida das crianças e no mundo”.